segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A Oração - Constant Chevillon




A oração é a única verdadeira e santa magia. A magia cerimonial, demasiadas vezes, acaba por colocar a vontade ao serviço do orgulho. A oração, por outro lado, é uma aspiração muito humilde do finito para o infinito. Uma pessoa rezando assemelha-se a um deserto que se esforça para se tornar um pasto cheio de flores, além disso, ele não demanda, ele pede.
No entanto, os homens comuns ignoram tudo o que envolve a oração. Para a esmagadora maioria, rezar é sinónimo de:
- dizer palavras com os lábios e por vezes com o coração com um ardor correspondente à intensidade dos seus desejos; ou,
- Curvar-se num templo ou oratório a fim de suplicar a um Deus antropomórfico e de acordo com seus próprios desejos presente totalmente materiais como: saúde, riqueza, sucesso ou amor. Assim, oramos hoje como oraram os judeus de outrora, que pretendiam trocar maná por cebolas do Egipto.
Certamente que uma oração pedindo bens neste mundo é naturalmente admissível. Dirigirmo-nos ao Pai misericordioso pedindo-lhe para nos guardar da miséria física é uma homenagem ao Seu poder omnipotente. Esquecemos, porém, demasiadas vezes, as palavras do Evangelho: “buscai primeiro o Reino de Deus e Sua Justiça e tudo o mais vos será dado.”
A oração não deve ser apenas intenção de quebrar o círculo infernal do destino. Ela é muito mais elevada e nobre. É como que um super-homem que descola para o Divino esplendor, ao mesmo tempo que se ajoelha – num indescritível êxtase – perante a inefável caridade.
Para ser capaz de orar desta maneira, é necessário tornarmo-nos interiormente em silêncio. Livrarmo-nos de todos os maus pensamentos, mesmo daqueles simplesmente negativos. É necessário colocar emoção, compreensão e razão em sintonia com o espírito, afim de entrar num estado passivo, de forma a permitir que a actividade Divina seja realizada interiormente.
É necessário abandonar a indiferença e a frieza. Fazer um holocausto do próprio ser. Projectar-se acima de qualquer egoísmo humano; num prodigioso chamamento de amor.
Então, o canal de Beatitude abrir-se-á de forma sublime.
Dois projectos convergirão entre si. O primeiro, ascendente, geralmente leva o homem ao seio de Deus; o segundo, como um rio celeste, desce sobre a terra para fazer com que a alma conceba uma gravidez de eternidade. Desta forma, esse nada, perdido no oceano do Ser sem fronteiras ou morada, é transportado até aos confins do Absoluto, por meio da misteriosa operação, repetida no seu sentido inverso, através da qual uma vez, o Filho de Deus se tornou filho do homem.
A distância torna-se inexistente. A natureza humana, agora transfigurada numa incompreensível união, abraça a Vontade de Deus, a Sua justiça e a Sua misericórdia.
Então a oração atinge um tal cume que não parecem importantes as coisas terrestres! As palavras de Crisóstomo são ardentes e graves: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade! Riqueza… Vaidade! Honra… Vaidade! Poder dos homens… Vaidade das vaidades! Tudo desaparece sob o sopro ardente do Paracleto.” Nada permanece, excepto a imensa fornalha do amor:
FONS VIVUS – IGNIS – CARITAS
(FONTE VIVA, FOGO, CARIDADE)
Serão só os santos capazes de se perder nesse transporte místico próximo da beatitude? Não.
Se a paz estiver com ele, todo o homem de boa vontade é capaz de chegar lá pois cada oração é santa quando apoiada na fé e na esperança – mesmo quando medida pelos padrões humanos.
Tu que tens o coração humilde e o espírito puro, não desencorajes perante a aparente esterilidade e ineficácia das tuas orações. Se pedires bens temporais, não te admires por nada receberes. O Reino de Cristo não é deste mundo e os teus desejos pouco valem quando comparados com as ofertas eternas que inconscientemente te são concedidas.
Ora, pois, nos cumes do êxtase por ti o pelos outros. Mas acima de tudo ora pelos outros, recordando a última visão de Diniz (frequentemente identificado como Dionísio Aeropagita), que, na véspera de ser torturado, pensava na prisão sobre a salvação da humanidade. Nesse êxtase, acorreu-lhe Jesus para o confortar dizendo-lhe: “Se rezares pelos outros, serás ouvido”. Então, se Deus pode multiplicar por cem a mais pequena oferta dada aos pobres em Seu nome, como te reembolsará ele do fruto das tuas orações?
Traduzido de: L’Initiation, Out. / Nov. / Dez. 1963.
“A virtude da oração é certa, por ela, o homem é colocado na corrente Divina; Orar é trabalhar a alma em direcção ao Sol desconhecido para que nele se possa prender…”
Breviário Rose Croix
Constant Chevillon.
(Constant Chevillon, foi Soberano Grão Mestre da Ordem Martinista, padeceu assassinado em Lyon, França, em 1944, pela Milícia francesa paga pelos invasores nazis)

(Texto retirado do site: www.ihshi.com)

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